Fitoterápico vs Fitofármaco
Você sabe a diferença entre Medicamento Fitoterápico e Fitofármaco? Veja a seguir exemplos e detalhes desses dois termos que podem gerar confusão nas pessoas que estudam ou se interessam pela fitoterapia.
Fitoterápico Vs. Fitofármaco
As diferenças primordiais entre um MEDICAMENTO FITÓTERAPICO e um FITOFÁRMACO consistem na quantidade de compostos presentes no produto e nos métodos de extração/ purificação. Por definição da ANVISA em nenhum dos grupos citados pode haver modificação da estrutura química, pois caso houvesse alguma alteração passaria a se chamar de FÁRMACO.
Um MEDICAMENTO FITOTERÁPICO compreende uma mistura de diversos compostos ativos diferentes que atuam de forma sinérgica (que supera a somatória dos efeitos). Essa mistura recebe o nome de FITOCOMPLEXO.
Para garantir o mesmo teor de fitocomplexos em cada dose (seja do comprimido, cápsula ou outra forma de apresentação), o fabricante faz a verificação de marcadores específicos (moléculas presentes na planta medicinal) em cada lote que será produzido, para fazer o que se chama de padronização química (ou estandardização).
Cada planta medicinal possui marcadores característicos que devem ser analisados qualitativa e quantitativamente para que se garanta a eficácia, qualidade, segurança e estabilidade. Algumas vezes o marcador não é o PRINCÍPIO ATIVO responsável pelo efeito terapêutico, e sim outra molécula possível de ser identificada, nesse caso recebe o nome de marcador analítico: como exemplo temos os Echinacosídeos da planta medicinal Equinacea purpúrea.
Veja na tabela abaixo a diferença entre Marcador Ativo (composto por substâncias com efeito terapêutico) e o Marcador analítico (sem correlação com o efeito terapêutico):
Um exemplo de MEDICAMENTO FITOTERÁPICO brasileiro é o extrato seco da planta medicinal conhecida como o hipérico (Hypericum perforatum) produzido pelo laboratório Herbarium. Na bula é informado que cada cápsula contém 0,30% de hipericinas totais (um dos componentes ativos usado como marcador da amostra na concentração descrita pela bula). A padronização faz com que todas as doses ingeridas contenham essa mesma proporção de hipericinas: 0,3mg em cada cápsula de 100mg.
Já o FITOFÁRMACO é a molécula pura obtida de uma planta após processo COMPLEXO de purificação e isolamento a partir de uma matéria-prima vegetal. A PLANTA MEDICINAL é, portanto, uma grande fonte de para a PRODUÇÃO DOS FITOFÁRMACOS. Veja o exemplo da papoula (Papaver somniferum): essa planta possui diversas substâncias com atividade farmacológica e utilidade médica. Ao se fazer cortes em seu fruto ainda verde, obtém-se um suco leitoso (látex) chamado de ópio. Após secagem, obtém-se o pó de ópio, no qual existem diversas substâncias ativas (chamadas alcaloides) sendo a MORFINA a mais conhecida e estudada (que representa 10% dos alcaloides do ópio).
A molécula pura de morfina, obtida através da purificação QUÍMICA do ópio é, portanto, um FITOFÁRMACO. Outra substância que também faz parte do ópio é a codeína (outro FITOFÁRMACO que representa 0,5% dos alcaloides do ópio), a qual faz parte do grupo de substâncias alcaloides oriundas do ópio e, por isso, chamadas de opiáceos .
Linha do tempo mostrando que o uso do ópio como medicamento remonta às civilizações antigas como a Egípcia, passa pela extração química da morfina e sua importância no entendimento dos mecanismos e receptores no corpo até seu uso como medicamento importante para o controle da dor nos dias atuais.
Não devemos confundir com os OPIOIDES (semelhantes aos opiáceos), que na verdade são FÁRMACOS SINTÉTICOS ou SEMISSINTÉTICOS semelhantes aos OPIÁCEOS (como exemplo a metadona, meperidina etc.). Um FITOFÁRMACO pode ser empregado como precursor para a síntese de um fármaco, por exemplo a estrutura molecular da morfina foi modificada para que se desenvolvesse outro fármaco (como o caso da meperidina).
Para saber mais sobre o processo de desenvolvimento dos FÁRMACOS a partir de plantas medicinais clique aqui.
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Veja agora alguns exemplos de Medicamentos Fitoterápicos vendidos no Brasil
Cimicifuga
Laboratório Herbarium
Extrato seco de Cimicifuga racemosa 80mg
Excipiente q.s.p 330mg
Partes usadas: rizoma.
Extrato seco padronizado em, no mínimo, 2,5% de glicosídeos triterpênicos calculados como 27-deoxiacteína. Cada cápsula contém, no mínimo, 2mg de glicosídeos triterpênicos como 27-deoxiacteína.
Posologia: 1 (uma) cápsula, 2 (duas) vezes ao dia.
Uso principal: atua aliviando os sintomas neurovegetativos do climatério (fogacho, sudorese noturna, nervosismo, cefaléia e palpitações).
Mecanismo de ação: efeito estrógeno mimético, supressão do hormônio LH (reduz a liberação de LH e pode ocupar o receptor inibindo ou não a secreção de LH). Pode se ligar em receptores uterinos, pituitários e hipotalâmicos.
Obs. Os principais componentes ativos são os glicosídeos triterpênicos (coletivamente chamados de fitoestrogênios) também são os marcadores desse medicamento fitoterápico.
Precauções: medicamento contra-indicado em gestantes. A superdosagem pode provocar nascimento prematuro.
Espinheira-santa
Laboratório Herbarium
Extrato seco de Espinheira-santa (Maytenus ilicifolia) 380mg, embalagem com 45 cápsulas.
Partes usadas: folhas.
Extrato seco padronizado em 3,5% de taninos, ou seja, cada cápsula contém 13,3mg de taninos.
Posologia: 2 cápsulas, 3 vezes ao dia (de 8/8h).
Uso principal: efeito protetor contra úlcera gástrica e dispepsia.
Ginko biloba
Laboratório Herbarium
Embalagem com 60 cápsulas gelatinosas duras (blísters) ou frasco contendo 200 cápsulas.
Extrato seco de Ginko biloba 20mg
Partes usadas: folhas.
Extrato seco padronizado em 24% de ginkgoflavonóides e 6% de terpenolactonas. Cada cápsula contém 4,8mg de ginkgoflavonóides e 1,2mg de terpenolactonas.
Posologia: 2 (duas) cápsulas 3 (três) vezes ao dia. Não partir ou mastigar o medicamento.
*Obs. Após 3 meses de uso, deve-se avaliar o risco benefício de se continuar a utilizar esse medicamento, pois pode aumentar o risco de Hematoma subdural bilateral espontâneo, hemorragia subaracnóide e aumento do tempo de hemorragia.
Uso principal: insuficiência vascular cerebral leve a moderada, problemas de memória, concentração, depressão, tontura, cefaléia, zumbido, vertigem, aumento da distância de caminhada sem dor em pessoas com doença arterial oclusiva periférica (claudicação intermitente, acrocianose e síndrome pós-flebite).
Mecanismo de ação: ação vasodilatadora e anti-agregante plaquetária induzida pela adenosina difosfato (ADP), antagonismo do efeito do fator de agregação plaquetária (FAP) e por inibição da agregação dos eritrócitos. Ação anti-oxidante em vasos e tecido cerebral, inibição da peroxidação lipídica . Alterações laboratoriais: aumento do TAP e TTPA.
Contra-indicações: gravidez (categoria de Risco C), lactação, discrasias sanguíneas, história prévia ou risco de AVC hemorrágico (tais como Hipertensão Arterial Sistêmica, placas amilóides de diabetes senil), não deve ser associado à trazodona ou diuréticos tiazídicos.
Esse medicamento não deve ser utilizado por tempo prolongado, pois pode aumentar a ocorrência de sangramentos. Seu uso deve ser suspenso 15 dias antes de se realizar uma cirurgia.
Interações medicamentosas: esse medicamento pode potencializar a ação de agentes antitrombóticos (como o AAS / ácido acetil salicílico), antiplaquetários (clopidogrel) e anticoagulantes como a heparina e triclopidina.
Ginseng
Laboratório Hertz
Nome comercial: Bioplus ginseng
Embalagem com 30 ou 60 cápsulas.
Extrato seco padronizado da raíz de Panax ginseng 80mg.
Partes usadas: raíz.
Extrato padronizado com 27% de ginsenosídeos, equivalente a 21,6mg de ginsenosídeos totais. Os Ginsenosídeos são marcadores e também as substâncias ativas responsáveis pela maioria das atividades farmacológicas do ginseng conhecidas até o momento. Contudo o extrato padronizado de Ginseng contém mais de 200 substâncias diferentes que já foram identificadas.
Posologia: 1 cápsula uma vez ao dia. Não mastigar e não partir a cápsula.
Mecanismo de ação: redução da concentração de ácido lático muscular durante o exercício físico, aumento das quantidades de dopamina e noradrenalina. Redução da quantidade de serotonina no cérebro.
Uso principal: como adaptógeno ou agente antiestresse, para melhora da capacidade de trabalho (estimulante, anti fadiga), aumento da resistência do organismo às influências externas, aumento da capacidade física e mental.
Conta-indicações: gravidez, lactação (exceto em caso de indicação médica), crianças abaixo de 12 anos, hiperestrogenia, hipertensão, diabetes, taquicardia, insônia, síndromes febris.
Efeitos indesejáveis: como o ginseng contém pequenas quantidades de estrona, estradiol e estriol, pode ocorrer a aparição de ginecomastia ou galactorréia.
Possíveis interações medicamentosas: não é recomendado sua utilização em conjunto com estimulantes do SNC, hormônios, hipoglicemiantes e anticoagulantes.
Maracujá
Laboratório Herbarium
Extrato seco de Passiflora incarnata 320mg, embalagem com 45 comprimidos.
Partes usadas: partes aéreas.
Extrato seco padronizado em 2,5% de flavonóides totais calculados como vitexina. Cada comprimido contém 8mg de flavonóides totais.
Posologia: 2 comprimidos, 3 vezes ao dia.
Uso principal e mecanismo de ação: atua no prolongamento do sono, aumenta os níveis de ácido gama-aminobutírico (GABA), bloqueio da enzima monoamino oxidase (responsável pela degradação da serotonina e, por isso, favorecendo a disponibilidade desse neurotransmissor), auxilia no tratamento da insônia, irritabilidade, agitação, ansiedade, impaciência.
Precauções: não associar com bebidas alcoólicas, anti-histamínicos, sedativos e medicamentos hipnóticos.
E aí? Gostou de saber mais sobre os medicamentos fitoterápicos e a diferença entre eles e os fitofármacos? Você faz uso de algum fitoterápico? Deixe seu comentário aqui em baixo👇!
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Referências
DE MEDICAMENTOS, Gerência Geral; DE MEDICAMENTOS, Superintendência; BIOLÓGICOS, Produtos. Guia de orientação para registro de Medicamento Fitoterápico e registro e notificação de Produto Tradicional Fitoterápico. 2014.
DUARTE, Danilo Freire. Uma breve história do ópio e dos opióides. Revista Brasileira de Anestesiologia, v. 55, n. 1, p. 135-146, 2005.
Bula Hipérico Herbarium.
DEVEREAUX, Andrea L.; MERCER, Susan L.; CUNNINGHAM, Christopher W. Dark classics in chemical neuroscience: morphine. ACS Chemical Neuroscience, v. 9, n. 10, p. 2395-2407, 2018.
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