Depressão tem cura? Quais os sintomas?
A partir de hoje esse inimigo silencioso e sorrateiro não vai mais passar desapercebido.

SIGECAPS
Essa é a abreviação mnemônica para nós, que atuamos na área da saúde, possamos lembrar dos sintomas centrais da depressão:
S de sleep (sono).
I de interest (interesse).
G de guilt (culpa).
E de energy (energia).
C de concentration (concentração).
A de apetite (apetite).
P de psychomotor retardation (retardo psicomotor).
S de suicidality (suicidalidade/ tendência suicida).
Explicação:
1) Sono: a falta ou excesso de sono.
2) Interesse: a perda do interesse em diversas áreas da vida.
3) Culpa: sentir-se culpado e/ou fracassado, que não gosta ou que desiludiu a si mesmo e/ou a própria família.
4) Energia: falta de energia ou mesmo a agitação.
5) Concentração: dificuldade de concentração até mesmo para ver televisão.
6) Apetite: falta do apetite ou mesmo o excesso.
7) Retardo psicomotor: no sentido de dificuldade ou lentidão para agir e se movimentar.
8) Tendência suicida: sentir que não vale a pena viver e/ou que seria melhor estar morto.
Todos nós já sentimos pelo menos um desses sintomas uma vez na vida. O diagnóstico vai se tornando mais claro e evidente quando os sintomas se somam, combinam e persistem.
Alguém com uma fadiga que não melhora, independente das horas de sono ou da dose de café ingerida, uma dificuldade de parar de comer (mesmo já tendo atingido a saciedade), sentir-se inútil ou que a vida não vale a pena ser vivida: todos esses são sintomas importantes para levarmos em consideração.
Talvez você não tenha pensado em suicídio propriamente dito, mas tenha percebido pensamentos sombrios frequentemente rondando sua ´´tela mental´´: pensamentos negativos que retornam com muita frequência, de maneira cíclica.
Por mais comum que seja a #depressão, ela permanece estigmatizada em nossa sociedade e muitas pessoas relutam em procurar ajuda, pensam que não serão compreendidas, que seus sentimentos não serão levados em consideração, entre outras dúvidas.
A situação é ainda mais estigmatizante entre nós médicos, pois há dificuldade e relutância em lidar com essa situação: a doença mental muitas vezes é vista como uma fraqueza. A vergonha, o medo do julgamento dos colegas e as possíveis repercussões na carreira ao se admitir uma doença mental levam ao atraso na busca pelo tratamento.
Todos os anos, mais de 25% dos estudantes de medicina e médicos residentes nos EUA apresentam depressão¹. Desses, apenas metade procuram tratamento. Daqueles que procuram tratamento, grande parte só procura ajuda quando a situação já está crítica, ao invés de procurar no início, quando talvez não fosse necessário o uso de medicamentos, mas sim o suporte psicológico e a terapia.
Somos levados a crer que o médico deve ser o curador e não o paciente. Mas a verdade é que mais de 11% dos médicos já considerou o suicídio como uma opção (segundo esse estudo)². Os médicos estão mais propensos a depressão do que as outras pessoas. Muitos se sentem culpados por precisar fazer uso dos medicamentos como se fossem ´´obrigados´´ a serem saudáveis.
A faculdade de medicina tem incontáveis desafios: privação de sono, ambiente competitivo, provas, contato com pessoas em fase terminal e uma rotina que muitas vezes inviabiliza o próprio cuidado com a saúde. Muitas vezes a situação após a formatura pode até piorar: no sentido das cobranças, responsabilidades, pressão emocional e mental. Isso tende a ser maior sobre os residentes médicos e não médicos: em alguns hospitais mais de 40% referem já ter sofrido algum tipo de assédio moral, segundo pesquisa publicada por Rodrigo Coelho Marques e colaboradores³.
Pensando principalmente nos desafios enfrentados pelos estudantes de medicina do primeiro e segundo ano, um grupo de estudantes e membros da Universidade de Harvard tem desenvolvido Workshops para ensinar meditação, técnicas de ´´auto-renovação´´, programas de bem-estar para melhorar os hábitos alimentares, higiene do sono, redução do estresse e melhora do humor¹¹.
Essas iniciativas irão fazer parte, mais cedo ou mais tarde, de diversas áreas da nossa vida em sociedade e serão cada vez mais necessárias.
Nada disso substitui o tratamento médico, mas dá suporte e ajuda muito a desmistificar e tratar o problema com um pouco mais de naturalidade e abordagens multidisciplinares.
Seja um empresário, comerciante, médico ou dona de casa: todos nós estamos susceptíveis à sombra da depressão.
´´Sentir-se isolado´´ no meio da multidão já era algo possível até no carnaval mais lotado do Rio de Janeiro, imagine agora que vivemos em #lockdown (confinamento)?
Mais do que nunca, precisamos falar sobre esse assunto: a depressão não pode ser vista como uma fraqueza, mas sim com uma doença que possui tratamento e diversas abordagens de suporte.
Nos sites a seguir, você encontrará um questionário para avaliar, de forma bem rápida, o grau de depressão nesse momento da vida *(lembre-se: é só um questionário e não substitui a consulta com um profissional habilitado nesse atendimento):
Versão em inglês:
E uma versão em português:
Qualquer que seja o escore obtido, não hesite em falar sobre esse assunto com amigos de confiança, parentes e profissionais. Ainda que não possua aparentemente ninguém em quem possa confiar para falar sobre isso: não se cale ou guarde para você! Procure ajuda se os sintomas que descrevi no início do texto estiverem de forma persistente em sua vida.
Não permita que a DEPRESSÃO seja um tabu: às vezes conseguimos apoio das pessoas que menos imaginamos.
Se você conhece alguém que possui algum desses sinais procure conversar de forma amigável sobre o assunto e encaminhe para que receba ajuda profissional, caso exista qualquer dúvida ou dificuldade em abordar o assunto.
Se você já trabalha com esse tema e gostaria de contribuir de alguma forma entre em contato pelo e-mail info@druah.com . Em breve, abriremos cursos para capacitar mais terapeutas para o time DRUAH e você será convidado a integrar nossa Equipe de cuidado multidisciplinar.
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Referências
¹ROSE, Michael R. SIGECAPS, SSRIs, and Silence—Life as a Depressed Med Student. New England Journal of Medicine, v. 378, n. 12, p. 1081-1083, 2018.
² Rotenstein LS, Ramos MA, Torre M, et al. Prevalence of depression, depressive symptoms, and suicidal ideation among medical students: a systematic review and meta-analysis. JAMA 2016;316:2214-36.
MARQUES, Rodrigo Coelho et al. Assédio moral nas residências médica e não médica de um hospital de ensino.Revista Brasileira de Educação Médica, v. 36, n. 3, p. 401-406, 2012.
¹¹ ROSENTHAL, Julie M.; OKIE, Susan. White coat, mood indigo-depression in medical school.New England journal of medicine, v. 353, n. 11, p. 1085, 2005.
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